terça-feira, 22 de novembro de 2011

Será o determinismo compatível com a responsabilidade moral?





CAROLINA: Penso que não é necessário, para defender o determinismo, afirmar tudo aquilo que o Daniel diz. Julgo que uma pessoa pode acreditar no determinismo, como eu acredito, sem ter de negar a responsabilidade moral, como faz o Daniel.
LÁZARO: É um ponto de vista interessante.
CAROLINA: Concordo com o Daniel quando ele afirma que os indícios a favor do determinismo são de tal modo fortes que temos de acreditar que o determinismo é verdadeiro. E concordo contigo, Lázaro, quando dizes que a legitimidade da culpa, do castigo e da moralidade mostra que somos responsáveis por aquilo que fazemos. Nem o determinismo, nem a responsabilidade moral podem ser negados sem que se neguem também factos evidentes.
LÁZARO: Depreendo que acreditas que a responsabilidade moral é compatível com o determinismo, certo?
CAROLINA: Sim. Uma pessoa pode acreditar em ambas sem se contradizer.
LÁZARO: Gostaria que te explicasses melhor, pois parece-me haver aí uma contradição. O determinismo implica que as pessoas não podem agir de modo diferente daquele que agem, e a responsabilidade moral pressupõe que as pessoas podem agir de forma diferente daquela que de facto agem. CAROLINA: Concordo contigo quando dizes que a responsabilidade moral pressupõe que as pessoas podem agir de modo diferente, mas não penso que essa possibilidade entre em conflito com o determinismo. O que queremos dizer quando afirmamos que podemos agir de modo diferente daquele que realmente agimos é apenas que nenhuma pessoa ou circunstância nos força a agir ou nos impede de fazer algo diferente. Mesmo que as nossas acções sejam causadas pelas nossas crenças, desejos ou escolhas, isto não significa que a tal tenhamos sido forçados.
LÁZARO: Por que é que defines "a capacidade de agir de outro modo" dessa forma?
CAROLINA: Defino-a assim porque é assim que, normalmente, a entendemos. Por exemplo, um assaltante de um banco que poderia não ter assaltado o banco é alguém que não foi forçado agir dessa maneira... É este sentido típico da "capacidade de agir de outro modo" que é necessário para haver responsabilidade moral e que é compatível com o determinismo.
LÁZARO: Podes explicar isso melhor?
CAROLINA: Claro. As nossas acções podem ser causadas pelas nossas crenças, desejos e escolhas e, ao mesmo tempo, não serem forçadas por nenhuma pessoa ou circunstância. O exemplo do ladrão de bancos é esclarecedor. Ele poderia não ter assaltado o banco uma vez que ninguém o forçou a isso, no entanto, a acção de assaltar o banco foi causada pela sua crença de que poderia escapar e pelo seu desejo de ficar rico. Ele é moralmente responsável por aquilo que fez, ainda que a sua acção tenha sido causada...
                                                                 
                                                                           Clifford Williams

Qual a relação entre livre arbítrio e responsabilidade moral?
É o determinismo compatível com a responsabilidade moral?

sábado, 19 de novembro de 2011

É o livre arbítrio compatível com o determinismo?




CAROLINA: Eu diria que há três questões principais: 1) Têm as pessoas livre arbítrio? 2) É o determinismo verdadeiro? e 3), é o livre arbítrio compatível com o determinismo?
LÁZARO: A minha resposta a essas questões é que as pessoas têm livre arbítrio, que o livre arbítrio é incompatível com o determinismo, e, logo, que o determinismo é falso.
DANIEL: O meu raciocínio é exactamente o oposto. Defendo que o determinismo é verdadeiro e, logo, que as pessoas não têm livre arbítrio.
CAROLINA: Concordo contigo, Lázaro, quando afirmas que as pessoas têm liberdade, e contigo, Daniel, quando afirmas que o determinismo é verdadeiro, mas não julgo que as duas posições sejam contraditórias.
Determinismo
LÁZARO: Talvez o melhor seja, antes de começarmos a discutir as nossas posições, definir "determinismo".
CAROLINA: Boa ideia. A minha definição de "determinismo" é: "Tudo o que acontece tem uma causa". Na terminologia da filosofia contemporânea isso é o mesmo que dizer que todo o acontecimento tem uma causa. Incluindo tudo o que fazemos, pensamos ou dizemos.
                                                                                                          Clifford Williams

Identifica o problema sobre o qual discutem/argumentam a Carolina, o Lázaro e o Daniel. Quais as suas posições acerca do mesmo?

O problema do livre arbítrio




Será que temos capacidade de escolha e de decisão? Ou a nossa acção está ligada a acontecimentos anteriores, sendo um efeito de um acontecimento anterior?
Muitos acontecimentos do mundo estão sujeitos a um determinismo causal. Mas são também  as nossas acções o resultado de causas anteriores e não o resultado da nossa vontade?
Somos livres ou determinados?


O que se entende por livre arbítrio?
O que se entende por determinismo?
Em que consiste o problema do lovre arbítrio?

As condicionantes da ação humana


O fenómeno fundamental da auto-experiência humana é que já de antemão nos achamos no meio de uma realidade, rodeada por coisas e seres humanos, com os quais lidamos, que nos influenciam e com quem mantemos uma relação múltipla. A nossa existência está na dependência do mundo, tanto do mundo das coisas e dos objectos como também e sobretudo do mundo humano e pessoal. A nossa existência concreta está assim condicionada e determinada de múltiplas formas. Foram-lhes dadas possibilidades, ao mesmo tempo que ficou sujeita a limitações.
Isto também é válido no que diz respeito à nossa vida somático-biológica, ligada a este mundo de coisas, submetida às leis e físicas e químicas, que surgiu neste mundo fruto de um processo vital e é regida por leis biológicas e psicológicas, como toda a forma de vida que existe no mundo. Assim, a nossa vida corporal está dependente do mundo como a nossa vida vital; está dependente das coisas do mundo que nos fornecem o alimento, vestuário e habitação, que nós aprendemos, usamos e manipulamos a fim de poder viver e subsistir como homens.
Com maior razão não pode prescindir do mundo humano. O indivíduo nasce na comunidade e cresce nela de forma humana. Aprende a sua linguagem, adopta os seus costumes e participa no seu espírito e na sua cultura. Tudo isto imprime um cunho decisivo na existência humana individual.
                                                 E. Goreth, O que é o Homem?
Quais são as duas ordens de causas ou de fatores condicionantes da ação?

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O que é uma ação?




"As nossas acções são (algumas das) coisas que fazemos. Na realidade o verbo ‘fazer’ cobre um campo semântico bastante mais amplo que o substantivo ‘acção’. O latim distingue o agere do facere (aos quais corresponde em português agir e fazer). Ao substantivo latino actio, derivado de agere, corresponde o substantivo acção. Assim, até de um ponto de vista etimológico, ‘acção’ só carreia a carga semântica de ‘agir’ e não propriamente de ‘fazer’.
Tudo quanto realizamos é parte da nossa conduta, mas nem tudo o que realizamos constitui uma acção. Enquanto dormimos realizamos muitas coisas: respiramos, suamos, damos voltas, apertamos a cabeça contra a almofada, sonhamos, talvez ressonemos alto ou falemos em voz alta ou andemos sonâmbulos pela casa. Todas estas coisas as realizamos inconscientemente, enquanto dormimos. Realizamo-las mas não nos damos conta delas, não temos consciência de que as realizamos. A estas coisas que fazemos inconscientemente não lhes vamos chamar acções.
Vamos reservar o termo ‘acção’ para as coisas que realizamos conscientemente, dando-nos conta de que as fazemos.
Há, no entanto, coisas que fazemos conscientemente, dando-nos conta delas, mas sem que à sua realização corresponda uma intenção nossa. Damo-nos conta dos nossos ‘tiques’ e de muitos dos nossos actos reflexos, mas realizamo-los involuntariamente, constatamo-los como espectadores, não os efectuamos como agentes. (A palavra ‘agente’ é outra das palavras derivadas do verbo latino agere.) Por algo que sentimos depois de comer damo-nos conta de que estamos a fazer a digestão. Mas fazer a digestão não constitui (normalmente) uma acção. Pelos sorrisos dos que nos observam damo-nos conta de que estamos a ser ridículos. Mas ser ridículo (praticar actos ridículos) não é uma acção, mas uma reacção, algo que nos passa despercebido e que lamentamos (a não ser que o façamos de propósito, como provocação; neste caso já seria uma acção). Também não chamamos acção a esses aspectos da nossa conduta de que nos damos conta, mas que não efectuamos intencionalmente.
No presente estudo limitar-nos-emos às acções humanas conscientes e voluntárias, às que daqui em diante chamaremos acções (sem mais). Uma acção é uma interferência consciente e voluntária de um homem ou de uma mulher (o agente) no normal decurso das coisas, que sem a sua interferência haveriam seguido um caminho distinto do que por causa da acção seguiram. Uma acção consta, pois, de um evento que sucede graças à interferência de um agente e de um agente que tinha a intenção de interferir para conseguir que tal evento sucedesse.
A maior parte dos acontecimentos não tem nada a ver com acções. Mas há acontecimentos que não pertencem ao normal decurso de um sistema, mas há interferência voluntária de um ser humano que é o agente dessa acção. Pode haver acontecimentos sem acções mas não pode haver acções sem acontecimentos "
                                                         MOSTERÍN, Jesús (1987). Racionalidad y Acción Humana



O que distingue acontecer, fazer e ação?
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