sábado, 21 de janeiro de 2012

Relativismo cultural



Ana Relativista

“Fui educada para acreditar que a moral se refere a factos objectivos. Tal como a neve é branca, também o infanticídio é um mal. Mas as atitudes variam em função do espaço e do tempo. As normas que aprendi são as normas da minha própria sociedade; outras sociedades possuem diferentes normas. A moral é uma construção social. Tal como as sociedades criam diversos estilos culinários e de vestuário, também criam códigos morais distintos. [... ]
Considere a minha crença de que o infanticídio é um mal. Ensinaram-me isto como se se tratasse de um padrão objectivo. Mas não é; é apenas aquilo que defende a sociedade a que pertenço. Quando afirmo «o infanticídio e um mal» quero dizer que a minha sociedade desaprova essa prática e nada mais. Para os antigos romanos, por exemplo, o infanticídio era um bem. Não tem sentido perguntar qual das perspectivas é «correcta». Cada um dos pontos de vista é relativo à sua cultura, e o nosso é relativo à nossa. Não existem verdades objectivas acerca do bem ou do mal. [... ] «Mal» é um termo relativo. Deixem-me explicar o que isto significa. Quero dizer que nada está absolutamente «à esquerda», mas apenas «à esquerda deste ou daquele» objecto. Do mesmo modo, nada e um mal em absoluto, mas apenas um mal nesta ou naquela sociedade em particular. [... ]
Podemos expressar esta perspectiva claramente através de uma definição: «x e um bem» significa «a maioria (na sociedade em questão) aprova x». Outros conceitos morais como «mal» ou «correcto» podem ser definidos da mesma forma. Note-se ainda a referência a uma sociedade especifica. Excepto se o contrário for especificado, a sociedade em causa e aquela a que pertence a pessoa que faz juízo. Quando afirmo «Hitler agiu erradamente» quero dizer de acordo com os padrões da minha sociedade».
o mito da objectividade afirma que as coisas podem ser um bem ou um mal de uma forma absoluta  e não relativamente a esta ou àquela cultura. Mas como poderemos saber o que é um bem ou o que é um mal em termos absolutos? Como poderíamos argumentar a favor desta ideia sem pressupor os padrões da nossa   sociedade?
As pessoas que falam do bem e do mal de forma absoluta consideram as normas que lhes foram ensinadas como factos objectivos. Essas pessoas necessitam de estudar antropologia, ou de viver algum tempo numa cultura diferente.
Quando adoptei o relativismo cultural tomei-me mais receptiva a aceitar outras culturas. Como muitos outros estudantes, eu partilhava a típica atitude «nós estamos certos e eles errados». Lutei arduamente contra isto. Apercebi-me de que o outro lado não está errado» mas que é apenas «diferente». Temos, por isso, que considerar  os outros a partir do seu próprio ponto de vista; ao critica-los, limitamo-nos a impor-lhes padrões que a nossa própria sociedade construiu. Nós, os relativistas culturais, somos mais tolerantes.”

HARRY GENSLER,
Introdução à Ética
Concordas com a concepção que a Ana Relativista tem da tolerância entre culturas?

ÉTICA E SUBJETIVISMO


Ana Subjectivista

Chamo-me Ana Subjectivista. Adoptei o subjectivismo ao compreender que a moral é profundamente emocional e pessoal.
O ano passado frequentei com alguns amigos um curso de antropologia. Acabámos por aceitar o relativismo cultural — a perspectiva de que o bem e o mal são relativos a cada cultura, que "bem" significa "socialmente aprovado". Mais tarde, descobri que o relativismo cultural enfrenta um problema, nomeadamente o de nos negar a liberdade para formarmos os nossos próprios juízos morais. Sucede que a liberdade moral é algo a que atribuo muita importância.
O relativismo cultural obriga-me a aceitar todos os valores da sociedade. Admitamos que descobri que a maior parte das pessoas aprova acções racistas; terei então de concluir que o racismo é um bem. Estaria a contradizer-me se dissesse "O racismo é socialmente aprovado embora não seja um bem". Como o relativismo cultural impõe as respostas do exterior, negando a liberdade de pensamento em questões morais, passei a considerá-lo repulsivo.
O subjectivismo sustenta que as verdades morais são relativas ao indivíduo. Se eu gosto de X e você não, então "X é um bem" é verdade para mim mas falso para si. Usamos a palavra "bem" para falar dos nossos sentimentos positivos. Nada é um bem ou um mal em si mesmo, independentemente dos nossos sentimentos. Os valores apenas existem como preferências de pessoas individuais. Você tem as suas preferências e eu as minhas; nenhuma preferência é objectivamente correcta ou incorrecta. Esta ideia tornou-me mais tolerante a respeito das pessoas com sentimentos diferentes e, portanto, com diferentes crenças morais.
                                                                                                                                             Harry Gensler


Que objecções se podem colocar ao subjectivismo moral?

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Sofistas e Platão





“Os sofistas são simplesmente professores de eloquência, que andam de cidade em cidade, professores de retórica que ensinam a arte de falar em público. Ao aprender a defender uma tese, seja ela qual for, ao encontrar os meios para levar a melhor sobre o adversário numa discussão, os sofistas participam na elaboração de uma “razão-discurso”. Num regime em que a persuasão é um dado fundamental do jogo político, os sofistas vão ensinar a defender a tese e a antítese com igual brio (…)”
                                                                 J.Russ


"Para Platão, a retórica é sofística e não tem nada de positivo. A dialética, segundo Platão, é mesmo um jogo de questões e respostas, mas dessa verdade única e unívoca que deve emergir da discussão porque é sempre pressuposta por ela. Este aparecimento do saber assenta, para além da discussão, numa realidade estável, feita de verdades, as Ideias (…)”

                                                                     Meyer

A retórica como manipulação




No diálogo Górgias, o tema central é a retórica, ligada à democracia e à educação dos jovens. Surge aqui a oposição entre os sofistas e os filósofos a propósito deste tema.

Com base no método dialético que consiste em colocar questões ao interlocutor para que, a partir da definição dos assuntos que investiga, se aproxime da verdade, Sócrates que reconhece a sua ignorância, interroga Górgias — um mestre da Retórica — sobre a importância e o poder da retórica.
Sócrates procura, mediante a definição de arte/techné, clarificar os conceito conhecimento e opinião, e adulação e verdade.
O título do diálogo deve-se ao facto de ter sido Górgias que introduziu a Retórica em Atenas, tendo sido considerado o primeiro responsável pela sua prática demagógica.


SÓCRATES: Dizias há pouco que até em questão de saúde o orador é mais persuasivo do que o médico.
GÓRGIAS: Sim, perante uma multidão.
SÓCRATES: Perante uma multidão quer dizer, certamente, perante aqueles que não sabem, porque, perante aqueles que sabem, o orador não pode ser mais persuasivo do que o médico.
GÓRGIAS: Dizes bem.
SÓCRATES: Nesse caso, se ele for mais persuasivo do que o médico, será mais persuasivo do que aquele que sabe.
GÓRGIAS: Sem dúvida.
 SÓCRATES: E isto sem ser médico, não é verdade?
GÓRGIAS: Sim.
SÓCRATES: Mas aquele que não é médico não é ignorante nas matérias em que o médico é entendido?
 GÓRGIAS: Claro que é.
SÓCRATES: Nesse caso, se ele formais persuasivo do que o médico, é um ignorante a ser mais persuasivo do que um entendido perante uma multidão de ignorantes. É realmente isto que sucede ou é outra coisa?

GÓRGIAS: No caso presente é o que sucede.
SÓCRATES: E não estão o orador e a retórica na mesma situação relativamente a todas as outras artes? Não precisa a retórica de conhecer a natureza das coisas, mas tão-somente de encontrar um meio qualquer de persuasão que a faça aparecer aos olhos dos ignorantes como mais entendidos do que os entendidos.
                                                                                             (PLATÃO, Górgias)


MANIPULAÇÃO
Tira partido das limitações do auditório
Recorre a argumentos falaciosos
Não se dirige ao pensamento do auditório mas à emoção
Trata o auditório como instrumento (meio para atingir os seus interesses)
PERSUASÃO RECIONAL
Persuasão racional do auditório
Dirige-se à inteligência do auditório para que este compreenda os seus argumentos



Platão  
O objectivo dos filósofos é a procura da verdade
Distinção entre aparência e realidade, conhecimento sensível e conhecimento racional
Só o verdadeiro conhecimento merece ser defendido
Sofistas
A verdade é um ponto de vista, toda a verdade é relativa
Qualquer opinião é defensável
A verdade é a tese do orador que vence a discussão (com melhor desempenho argumentativo)



De que forma se opõe Platão à retórica?
Retórica e Filosofia

Retórica e democracia





“É numa sociedade democrática e pacífica que são maiores as probabilidades de se assistir ao desenvolvimento de um grande interesse pela argumentação. (…) a argumentação não decorre de uma verdade imposta mas de uma convicção a estabelecer. Aliás é mais uma questão de consenso do que de certeza. Do mesmo modo, a argumentação não pode exercer-se num sistema ditatorial ou totalitário; de resto, ela só faz plenamente sentido numa sociedade igualitária ou, pelo menos pluralista, em que as decisões são tomadas colectivamente. De igual modo, a argumentação exige a renúncia à força, à violência, ao confronto bélico. É certo que só há argumentação quando há desacordo, mas ela impõe uma resolução do desentendimento por meio da discussão, do debate discursivo, em vez do confronto bélico.”
                                                                          P. Breton,  G. Gautier
Qual a relação entre retórica e democracia?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Critérios valorativos




Os valores justificam as nossas escolhas e preferências, relativamente aos atos e aos objetos. Os valores estão na base das nossas escolhas.


Dilema moral:
          Lawrence Kohlberg
I
Numa cidade da Europa, uma mulher estava a morrer de cancro. Um medicamento descoberto recentemente por um farmacêutico dessa cidade podia salvar-lhe a vida. A descoberta desse medicamento tinha custado muito dinheiro ao farmacêutico, que agora pedia dez vezes mais por uma pequena porção desse remédio. Heinz, o marido da mulher que estava a morrer, foi ter com as pessoas suas conhecidas para lhe emprestarem o dinheiro pedido pelo farmacêutico. Foi ter, então com ele, contou-lhe que a sua mulher estava a morrer e pediu-lhe para o deixar levar o medicamento mais barato. Em alternativa, pediu-lhe para o deixar levar o medicamento, pagando mais tarde a metade do dinheiro que ainda lhe faltava. O farmacêutico respondeu que não, que tinha descoberto o medicamento e que queria ganhar dinheiro com a sua descoberta. Heinz, que tinha feito tudo ao seu alcance para comprar o medicamento, ficou desesperado e pensou assaltar a farmácia e roubar o medicamento para a sua mulher.
-         Deve Heinz assaltar a farmácia para roubar o medicamento para salvar a sua mulher?
II
Supondo que Heinz assaltava a Farmácia. A notícia do roubo aparecia no jornal. Brown, um polícia que conhecia Heinz, leu a notícia e lembrou-se de o ter visto a sair correndo da tal Farmácia. Como era amigo de Heinz, e conhecendo o seu caso, perguntou a si mesmo se deveria denunciá-lo.
-         Deve o polícia acusar Heinz de roubo?

III
Supondo que Brown prendia Heinz, este é levado a tribunal e compete agora ao Juiz determinar qual a sua sentença.
-         Deve o Juiz condenar Heinz ou suspender a pena e libertá-lo?
-         Que valores estão em conflito?
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