sexta-feira, 14 de junho de 2013

Toda a arte é completamente inútil





O artista é o criador de coisas belas.
O objetivo da arte é revelar a arte e ocultar o artista.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outro modo para um novo material a sua impressão das coisas belas. 
 (…)
Um livro moral ou imoral é coisa que não existe. Os livros são bem escritos ou mal escritos. E é tudo.
(…)
A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar alguma coisa.  Até as verdades podem ser demonstradas.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um maneirismo de estilo imperdoável.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista instrumentos de arte.
O vício e a virtude são para o artista matérias de arte.
Sob o ponto de vista da forma, a arte do músico é o modelo de todas as artes. Sob o ponto de vista do sentimento, é a profissão de ator o modelo.
Toda a arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo. Os que penetram para além da superfície, fazem-no a expensas suas. Os que lêem o símbolo, fazem-no a expensas suas.
O que a arte espelha é o expectador, não a vida.
A diversidade das opiniões sobre uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital.
Quanto os críticos divergem, o artista está em consonância consigo mesmo.
Podemos perdoar a um homem que faça alguma coisa útil, conquanto que a não admire. A única justificação para uma coisa inútil é que ela seja profundamente admirada.
Toda a arte é completamente inútil.


 Oscar Wilde, "Prefácio", O Retrato de Dorian Gray, Trad. Maria de Lourdes Ruivo

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...