terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O hedonismo qualitativo de Stuart Mill


Matisse

Se me perguntarem o que entendo pela natureza qualitativa dos prazeres, ou por aquilo que torna um prazer mais valioso que outro, simplesmente enquanto prazer e não por ser maior em quantidade, só há uma resposta possível. De dois prazeres, se houver um ao qual todos ou quase todos aqueles que tiveram a experiência de ambos darem uma preferência decidida, independentemente de sentirem qualquer obrigação moral para o preferis, então será esse o prazer mais desejável.(…)


Ora, é um facto inquestionável que aqueles que estão igualmente familiarizados com ambos, e que são igualmente capazes de os apreciar e de se deleitar com eles, dão uma preferência muitíssimo marcada ao modo de existência que emprega as suas faculdades superiores. Poucas criaturas humanas consentiriam em ser transformadas em qualquer dos animais inferiores perante a promessa de plena fruição dos prazeres de uma besta, nenhum ser humano inteligente consentiria tornar-se tolo, nenhuma pessoa instruída se tornaria ignorante, nenhuma pessoa de sentimento e consciência se tornaria egoísta e vil, mesmo que a persuadissem de que o tolo, o asno e o velhaco estão mais satisfeitos com a sua sorte do que ela com a sua (…) Quem supõe que esta preferência implica um sacrifício da felicidade – que, em igualdade de circunstâncias, o ser superior não é mais feliz do que o inferior – confunde as ideias muito diferentes de felicidade e de contentamento. É indiscutível que um ser cujas capacidades de deleite sejam baixas tem uma probabilidade maior de se satisfazer completamente, e que um ser amplamente dotado sentirá sempre que, da forma como o mundo é constituído, qualquer felicidade que possa procurar é imperfeita. Mas pode aprender a suportar as suas imperfeições, se de todo forem insuportáveis, e estas não o farão invejar o ser que, na verdade, está inconsciente das imperfeições, mas apenas porque não sente de modo nenhum o bem que essas imperfeições qualificam. É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; é melhor ser Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito. E se o tolo ou o porco têm uma opinião diferente é porque só conhecem o seu próprio lado da questão. A outra parte da comparação conhece ambos os lados.

                                                                             J. Stuart Mill, Utilitarismo




Hedonismo quantitativo
(Jeremy Bentham)
Hedonismo qualitativo
(Stuart Mill)


O valor intrínseco de um prazer depende apenas da sua duração e intensidade

O valor intrínseco de um prazer depende sobretudo da suaqualidade.

Distinção entre prazeres inferiores (comuns aos animais) e prazeres superiores, (resultantes das capacidades intelectuais)



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