Subjetivismo - objeções




A Ana Subjetivista deu-nos uma formulação clara de uma maneira importante de abordar a moral. Concordo com a sua ênfase na liberdade moral e com a sua rejeição do relativismo cultural (e de qualquer outra perspetiva que exclua a liberdade moral). Mas discordo da sua análise do “bem”. Além disso, necessita de aprofundar as suas ideias sobre o pensamento moral.

O maior problema consiste no subjetivismo fazer o bem depender completamente do que gostamos. Se “X é um bem” e “Gosto de X” significam a mesma coisa, o seguinte raciocínio é válido:
Gosto de X. 

  X é um bem.
Suponha por momentos que os amigos irresponsáveis da Ana Subjetivista gostam de se embebedar e magoar pessoas. Poderiam então deduzir que as ações abaixo são um bem:

Gosto de me embebedar e magoar pessoas. 

 Apanhar bebedeiras e magoar pessoas é um bem.
Mas este raciocínio não está correto: a conclusão não se segue da premissa. O subjetivismo oferece-nos uma abordagem demasiado imperfeita da moral, em que apenas fazemos o que gostamos.
Pior ainda, os meus gostos e aversões tornariam as coisas boas ou más. Suponha que gosto de magoar pessoas; isto faria com que fosse um bem magoar pessoas. Imagine que eu gosto de reprovar estudantes apenas pelo prazer que isso provoca; isto faria com que reprovar estudantes apenas pelo gozo se tornasse um bem. Tudo o que me agradasse tornar-se-ia um bem — ainda que eu gostar disso fosse apenas o produto da estupidez e da ignorância.

O racismo fornece-nos um bom teste para as perspetivas éticas. O subjetivismo é insatisfatório neste ponto dado afirmar que fazer sofrer pessoas de outras raças é um bem desde que eu goste de o fazer. Depois, o subjectivismo implica que Hitler disse a verdade quando afirmou “O assassínio dos judeus é um bem” (visto que este enunciado apenas significa que Hitler gostava de matar judeus). O subjetivismo tem implicações inaceitáveis sobre o racismo.

A educação moral dá-nos outro teste. Se aceitarmos o subjetivismo, de que modo educaremos as nossas crianças para pensarem sobre questões morais? Ensiná-las-íamos a seguir os seus sentimentos, a deixarem-se guiar pelos seus gostos e aversões; não lhes forneceríamos um guia para formarem sentimentos responsáveis e sensatos. Ensinaríamos às crianças que “Gosto de magoar pessoas — portanto, magoar pessoas é um bem” é uma forma correta de raciocinar. O subjetivismo implica também consequências bizarras em educação moral.

Não é difícil expor as debilidades do subjetivismo. Mas, nesse caso, por que razão é tão plausível esta doutrina? Uma das razões é que aquilo de que gostamos corresponde, em geral, ao que pensamos ser um bem. O subjetivismo explica isto: dizer que uma coisa é “boa” significa que gostamos dela. Mas é possível dar outras explicações. Talvez estejamos motivados para gostar daquilo que descobrimos ser um bem (através da razão ou da religião). Portanto, não há apenas uma forma de explicar a ligação entre o que gostamos e o que julgamos um bem.

Se, como é frequente, formos pessoas moralmente imaturas, esta correspondência pode falhar. Podemos gostar de coisas que julgamos serem um mal, por exemplo, gostar de magoar as outras pessoas. O que se espera da moral é que sirva de constrangimento aos nossos gostos e aversões. Pensar que magoar outras pessoas é um mal pode impedir-nos de o fazer, embora fosse isso que gostaríamos. Portanto, não podemos identificar o que é bom com aquilo de que gostamos — embora, se tivermos maturidade moral, haja uma correspondência entre ambos.

Não são muitos os filósofos que defendem atualmente o subjetivismo. Alguns dos que têm tendência para o subjetivismo adotaram o emotivismo, doutrina que difere da primeira de uma forma subtil. Cada uma destas perspetivas interpreta o “bem” como se segue:

  • Subjetivismo: “X é um bem” significa “Gosto de X”
  • Emotivismo: “X é um bem” significa “Viva X!”
O emotivismo afirma que os juízos morais são exclamações emocionais e não afirmações verdadeiras ou falsas; esta perspetiva está muito próxima do subjetivismo e é mais difícil de refutar. Outros filósofos com as mesmas tendências adotaram a perspetiva do observar ideal; a palavra “bem” exprime não os sentimentos que efetivamente temos mas o modo como nos sentiríamos caso fossemos totalmente racionais. Esta perspetiva tenta combinar o sentimento e a razão. A próxima secção é dedicada a esta perspetiva.

A Sub falou-nos em liberdade moral. Mas não nos disse de que modo podemos usá-la de uma forma responsável. Disse que precisamos de seguir os nossos sentimentos. Mas nada disse acerca de como desenvolver sentimentos sensatos. A próxima perspectiva procura superar estas deficiências através de uma concepção mais rica acerca daquilo em que consiste o pensamento moral.

Perspetiva do Observador Ideal: "X é um bem” significa “Desejaríamos X se estivéssemos inteiramente informados e nos preocupássemos imparcialmente com todas as pessoas.” Escolha os seus princípios morais procurando ser tão imparcial e bem informado quanto possível — veja então o que deseja.


                                                                         Harry Gensler

1. Identifique o problema filosófico presente no texto.
2. Explicite a teoria defendida pela Ana Subjetivista.
3. Esclareça as objeções apresentadas no texto a esta teoria.

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