domingo, 3 de janeiro de 2016

Definição tripartida de conhecimento





Sócrates: Diz-me, então, qual a melhor definição que poderíamos dar de conhecimento, para não nos contradizermos?
(…)
Teeteto: A de que a crença verdadeira é conhecimento? Certamente que a crença verdadeira é infalível e tudo o que dela resulta é belo e bom.

(…)
Sócrates: O problema não exige um estudo prolongado, pois há uma profissão que mostra bem como a crença verdadeira não é conhecimento.

Teeteto: Como é possível? Que profissão é essa?
Sócrates: A desses modelos de sabedoria a que se dá o nome de oradores e advogados. Tais indivíduos, com a sua arte, produzem convicção, não ensinando mas fazendo as pessoas acreditar no que quer que seja que eles queiram que elas acreditem. Ou julgas tu que há mestres tão habilidosos que, no pouco tempo concebido pela clepsidra sejam capazes de ensinar devidamente a verdade acerca de um roubo ou qualquer outro crime a ouvintes que não foram testemunhas?
Teeteto: Não creio, de forma nenhuma. Eles não fazem senão persuadi-los.
Sócrates: Mas para ti persuadir alguém não será levá-lo a acreditar em algo?
Teeteto: Sem dúvida.

Sócrates: Então, quando há juízes que se acham justamente persuadidos de factos que só uma testemunha ocular pode saber e mais ninguém, não é verdade que ao julgarem esses factos por ouvir dizer, depois de terem formado deles uma crença verdadeira, pronunciam um juízo desprovido de conhecimento, embora tendo uma convicção justa e dando uma sentença correcta?
Teeteto: Com certeza.

Sócrates: Mas, meu amigo, se a crença verdadeira e o conhecimento fossem a mesma coisa, os melhores juízes não podiam ter uma crença verdadeira sem ter conhecimento.
Teeteto: Eu mesmo já ouvi alguém fazer essa distinção, Sócrates; tinha-me esquecido dela, mas voltei a lembrar-me. Dizia essa pessoa que a crença verdadeira acompanhada de razão (logos) é conhecimento e desprovida de razão (logos), não.”

                                                                          Platão, Teeteto




Em que condições um determinado sujeito, S, sabe que p (sendo p uma dada proposição)?

A crença é uma condição necessária para o conhecimento proposicional, porque não podemos saber que p sem acreditar que p.

A verdade também é uma condição necessária para o conhecimento proposicional, porque, uma vez que só podemos saber que P se for verdadeira (só se podem conhecer factos).

A justificação é uma condição necessária para o conhecimento proposicional porque não podemos dizer que sabemos que p se não tivermos razões para acreditar em p, mesmo que por acaso p se venha a revelar verdadeira.

Segundo a definição tradicional (definição tripartida de conhecimento) para além de serem condições necessárias, a crença, a verdade e a justificação são conjuntamente condições suficientes para o conhecimento.

S sabe que p, se, e só se,

1.       S acredita em p.
2.       p é verdadeira.


3.       S tem uma justificação para acreditar em p.

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